ANDARINA

ANDARINA

Andarina-Mulheres de Linhas

Meu nome é Maria Fernanda Miranda, sou cerratense, mãe, artista e pesquisadora da dança, doutoranda em Artes da Cena/Unicamp e docente temporária no IFG-Campus Goiânia. Meu nome é Maria Fernanda Miranda, mas nessas terras de cá, do Norte e Noroeste de Minas Gerais, localizadas na margem esquerda do Rio São Francisco recebo de Dona Lili, da comunidade de Ribeirão de Areia, o nome de Andarina. Segundo ela, quem caminha por essas terras dançando e cantando sabe o jeito certo de não cansar. E ela, Dona Lili, não cansa e sabe caminhar!

As sertanejas e sertanejos trocariam as mãos pelos pés no melhor dos sentidos. Num sertão movimentante todo tempo, o deslocamento feito a pé constitui também matéria prima essencial da experiência de vida e prática geraizeira. Nessa prática, o deslocamento é definido não como algo qualquer que acontece de um ponto a outro, mas nos ENCONTROS que as distâncias percorridas, ao se fazerem presentes, impulsionam o movimento. Com pés de caminhantes, é que me visto de veredas e voos de araras vermelhas em tecedura fiada de uma poetnografia dançada pelas mãos das fiandeiras, tecelãs, tingideiras e bordadeiras. A quem chamo carinhosamente de mulheres de linhas. Em um outrar de camadas elas nos ensinam que o outro é também a paisagem, os bichos, o vento, o sol, a chuva, a linha, o tecido, a agulha, a roda, o tear, as memórias dos tempos que são constantemente atualizadas na forma de movimento pelo dia a dia. Nos encontros ocorridos, após distâncias percorridas me faço uma caminhante dançante nesse sertão de Cerrado. 

Maria Fernanda Miranda

(Doutoranda em Artes/Unicamp)